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Data: Segunda-feira, 3 de Julho de 2000 21:00
Data: Segunda-feira, 3 de Julho de 2000 21:00
Apesar de ser um assunto doloroso, a morte faz parte do dia-a-dia de todos nós. Ainda assim, há uma certa tendência dos pais em "esconder" da criança esta ocorrência natural da vida. Segundo a psicóloga carioca Fernanda Roche, é preciso que os pais compreendam que, ainda que desejem, não conseguirão manter as dificuldades da vida afastadas de seus filhos. "Para protegê-los, no entanto, será preciso prepará-los adequadamente para tomar contato com essas ocorrências. Infelizmente, o fato de evitar falar sobre a morte não a deixará longe de nós. Evitar falar de sofrimento não o afasta, apenas impede que ele seja elaborado pela criança", salienta Fernanda.
Um aspecto importante sobre o tema, segundo a psicóloga, é a questão das fantasias que a criança faz a respeito da morte. Todo indivíduo - a partir da ciência e ou de crenças religiosas -, tem uma maneira particular de compreender, com maior ou menor dificuldade, o que leva uma pessoa à morte. A criança, autocentrada, tem a tendência a acreditar que tudo o que acontece gira ao seu redor. Assim, acredita que, de alguma forma, os sentimentos negativos que possa ter tido com relação a seu parente próximo em dado momento pode tê-lo aniquilado, ou ainda, que ela não teria se comportado da forma que deveria, causando-lhe a morte.
"Uma fantasia infantil bastante comum é a de que o parente vai voltar um dia", cita Fernanda. Segundo ela, a criança pequena não tem noção de finitude, trazida pela realidade. Para ela, a vida é regida segundo o princípio do prazer. Assim, torna-se difícil para a criança compreender que uma situação de morte de um ente querido seja definitiva. A psicóloga faz um alerta: ainda que a realidade tenha sido imposta à criança cedo demais, pode ser muito perigoso deixá-la acreditar que seu parente irá retornar para a vida. Estas crenças, se não forem devidamente esclarecidas, podem trazer sérios prejuízos ao desenvolvimento emocional da criança. Para abordar o assunto - recomenda a psicóloga - os pais podem utilizar filmes infantis, clássicos como Bambi, O Rei Leão, ambos da Disney, ou Em Busca do Vale Encantado. Os livros de histórias infantis também falam da morte de várias maneiras e há, inclusive, algumas obras dirigidas especificamente para estes momentos. A própria brincadeira não dirigida, com bonecos que formem uma família, costuma dar a chance da criança se expressar a este respeito, detalha Fernanda.
Como Contar a uma Criança que um Parente Próximo Faleceu?
A morte é um tema presente em todos os lares, mas essa incidência não está ligada, necessariamente, à facilidade em lidar com a ocorrência. Na dor da perda, muitas vezes, torna-se difícil para a família refletir sobre a melhor maneira de apresentá-la à criança.
De acordo com a psicóloga carioca Fernanda Roche, a morte deve ser comunicada pelos pais à criança em conversas despretensiosas. "Costumo orientar os pais para que introduzam o tema nas conversas com a criança, antes mesmo que aconteça algum falecimento na própria família", afirma a psicóloga, salientando que, se for cronologicamente possível, o tema deve aparecer em conversas sobre animais, flores ou pessoas. A criança deve ser esclarecida, nos limites da sua curiosidade, salienta.
Muitas vezes a criança surpreende os pais ou familiares, trazendo o assunto da morte. Nesse momento muitos pais desconversam, tentando ganhar algum tempo para procurar saber o que responder ou como fazê-lo. É neste instante que o tema se transforma num tabu. A criança percebe que o adulto teve dificuldades para respondê-la e, por medo de desagradar, acaba por desistir de interrogar aquela pessoa, fechando um canal de comunicação importante, alerta Fernanda, acrescentando que a criança vai tirar sua dúvidas com outra pessoa mais acessível, talvez não tão bem informada ou com uma visão de morte diferente daquela que os pais gostariam de transmitir.
A criança deve ser informada sobre a morte na medida de sua curiosidade. Não será necessário explicações longas ou elaboradas, pois o importante é que a criança possa reconhecer, entre seus familiares, uma fonte segura de informações para as suas dúvidas. É essencial que a criança possa arrumar a morte em sua cabecinha no lugar adequado", finaliza.
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